segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Música e imagem

A interpretação do mundo, por mais trabalhosa que seja, costuma levar a uma maior compreensão e conseqüente preparação para o ambiente que nos cerca. Á medida que, por causa da integração que ela promove , a percepção (e o conhecimento) do mundo aumenta , aumentam também a integração entre os elementos e os valores de diversas culturas.
Nesse processo, as certezas são cada vez menores. Por isso, quem trabalha com comunicação e manipula símbolos - portanto transmite interpretações o tempo todo - precisa prestar ainda mais atenção na mensagem que pretende transmitir.
O fato, é que estamos começando a perceber que a compreensão visual vem bem antes da leitura. A criança desde cedo olha e reconhece metade dos ambientes antes mesmo de poder falar, mesmo quando adulto o sujeito consegue “ver” uma imagem em sua memória, mas lhe faltam palavras para descrevê-la, portanto, a mensagem foi assimilada mesmo não conseguindo ser transmitida, mas caso ocorra ao contrário: palavra comprometida e imagem não formada, a conclusão que se pode ter, é que a mensagem não conseguiu ser transmitida.

CENA I




Na entrada do teatro, apenas propagandas visuais chamavam atenção “Villa” a cada três passos dando o cartaz surge... e isso vai até você entrar na porta principal do teatro quando finalmente você encontra “ A ciranda do Villa”.A sala é de cor neutra , deve ter tido influência dos psicólogos( que nesse ponto estão certos, já que realmente seu corpo recebe uma paz inexplicável), as cadeiras ganham espaços na medida que você entra no recinto da obra .O silêncio é assustador, é como se as pessoas estivessem mortas, totalmente caladas ao ponto de se escutar apenas o barulho das respirações.
A peça é inspirada sobre as viagens Brasil adentro de Heitor Villa-Lobos que ganha formas e identidade a partir do momento que as afinadas atrizes e atores da companhia passam minuciosamente um suposto sonho infantil do compositor.
Nesta utopia o menino Villa-Lobos visita a Amazônia (Belém) e as regiões Nordeste, Sul e Sudeste para mostrar como adquiriu os elementos da sua musicalidade. Tudo é perfeito, apesar do clima de improviso do teatro de rua, as afiadas rimas recitadas e cantadas são maravilhosamente inseridas no espetáculo, aliadas à harmonia da coreografia a narrativa ganha e passa ao público uma sensação ímpar, que chega um momento que a emoção toma conta da platéia. O mais sensacional e curioso, é que nenhum instrumento musical é utilizado, e sinceramente não fizeram tanta falta. O espetáculo ganha seu êxtase quando a tenra versão a capella de o trenzinho do caipira, tocata das Bachianas Brasileiras n°2, ecoa no teatro como em uma orquestra. Nesse momento as pessoas começam a sorrir outras ficam emocionadas ao ponto de surgirem às lágrimas. O que você pode fazer !?
Apenas escutar e deixar a música e as sensações tomarem conta do seu corpo e mente, e a imagem se ver, palavras não serão suficiente para descrever as emoções, mas tenho certeza: a mensagens foi absorvida.
Na saída as pessoas comentam sobre a peça, e como tudo estava perfeito. Eu sem companhia para dividir a sensação ficava calada (coisa rara), apenas escutando os outros, não sabia ao certo como avaliar aquilo tudo. As imagens, atores, cenário, música era tudo belo, mas longe escutei um senhor de aproximadamente 60 anos dizendo que o elemento principal da peça tinha sido a música. Sua parceira apenas o escutava com um semblante tão sereno, que as palavras dele acabavam tranqüilizando e convencendo-me, depois de vinte minutos virei em direção a mesa do casal, e disse: “a música realmente conseguiu me dar uma paz de espírito”
Ele apenas sorriu, e em tom trêmulo talvez pela idade respondeu:” então você sabe o que estamos sentindo”.Foi um momento marcante de uma viagem um tanto que solitária.Hoje acordei pensando neles, e faço a seguinte pergunta:Por que recusei sentar na mesa deles?E por que não trocamos os telefones?Por que não aproveitei a momentânea amizade de fiz?

CENA II




É preciso outras palavras, outro processo para estabelecer o seu lugar com relação ao mundo que o cerca. A cena pode ser explicada com palavras, mas raramente é completa ou satisfatória.
Quem nunca se decepcionou ao ver a adaptação cinematográfica do seu livro preferido?E depois chegou a conclusão que sua interpretação visual das palavras foi mais profunda ou diferente de quem fez o filme. Mas tem os que preferem primeiramente ver o filme e depois lê o livro. Isso é subjetivo.
Sou obcecada por um blog. (Ora quem não é?) Cada um tem seu preferido. Até aí nenhuma novidade, nê?Mas garanto ele é diferente ( nada extra).
As imagens ganham maior relevância, os textos são quase inexistentes. Elas ganham sua interpretação por si própria, e o leitor faz seu olhar individual.
Tive oportunidade de participar de uma exposição em tributo ao fotógrafo baiano Mario Cravo Neto, as fotos da exposição traduz uma linhagem de Pierre Verger, mas não tão antropológico..lindas mesmo! Mario Cravo tinha em minha opinião áreas, mas espiritualizada, o que acabou me afastando durante um tempo,mas seu olhar quase sacro, ou uma espécie de barroco cheio de libido, principalmente no campo fotográfico foi aparecendo,as imagens são carregadas de uma influência psicológica de Carl Jung, que de certa forma fizeram as fotos ganharem um novo rumo e outra identidade.Foi então nesse ínterim que fui sendo enfeitiçada por suas obras.
As imagens apresentam aquele minimalismo americano não pelo estilo, mas pela rigorosidade com a luz, a composição e os elementos, que são economizados. Isso é exemplo de que a imagem (fotografia) não precisa de texto.

CENA III







As imagens mostram um ambiente carregando de símbolos ilustrando o modelo de um livro, no caminho da exposição os visitantes são convidados a seguir um caminho de estrelas e percorrer constelações inspiradas na narração do “Pequeno Príncipe”. A obra possui destaque quando as imagens ganham uma maior relevância dentro do espaço. O público é convidado à fazer parte da representação teatral através de sua foto individual( foto retirada na entrada do parque - representando o seu caminho até outro planeta ).
O cenário é fantástico, além do que toda ambientação foi criada para transportar o público ao mundo do personagem. No fim do passeio os visitantes podem deixar mensagens escritas em uma estrela, que será “plantada” nos galhos de uma árvore cenográfica.Outro sinal de que as imagens realmente estão presentes?


Fonte :Imagens 01 (Arquivo pessoal)
Imagens 02 ( nadaextra.tumblr.com/)
imagens 03 (dereismo.files.wordpress.com/2008/12/pequeno-principe.jpg)

2 comentários:

  1. Depois de "Retratos de um bar", essa foi sua melhor postagem!
    Escreves muito bem. Sabes como se expressar.
    Parabéns!

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  2. Regi, tu gostas mesmo do meu tumblr?! oooolha! :)

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